quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Oscar Niemeyer, o nosso adeus!



 O maior arquiteto do país acaba de falecer. Saiba um pouco sobre ele e veja uma galeria de fotos das suas principais obras

Aos 104 anos, Oscar Niemeyer nunca abandonou seu trabalho. Desde 1934, quando se formou arquiteto pela Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, não parou de projetar prédios, casas e móveis. Mesmo com a saúde debilitada nos últimos anos, seguiu firme e forte na profissão. Continuou requisitado para fazer grandes construções de prédios no Brasil e fora, como a sede do Tribunal Regional do Trabalho em Recife e uma grande biblioteca na Argélia, ambos de 2011.

Niemeyer foi o maior nome da arquitetura nacional. Teve trabalhos reconhecidos no mundo inteiro e influenciou gerações de profissionais – não só arquitetos, mas designers, estilistas, artistas. A arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992) costumava brincar que ele tinha sido beijado por Deus. Já a estilista Glória Coelho via em seu traço o corpo curvilíneo das brasileiras. O consagrado designer Sergio Rodrigues declarou que sua maior motivação era criar peças dignas da arquitetura de Niemeyer. A cadeira Oscar foi uma homenagem ao amigo, com quem trabalhou.

Sua carreira começou no escritório do urbanista Lúcio Costa, com quem projetou Brasília. O arquiteto franco-suíço Le Corbusier, precursor da arquitetura moderna, era a principal referência para a dupla. A cidade era a representação do progresso, com largas avenidas, grandes prédios e construção em tempo recorde. “Na construção de Brasília, a partir de 1957, comecei a valorizar a arquitetura da estrutura da obra”, declarou Niemeyer em uma entrevista. “Passei a fazer a arquitetura e a escultura nascerem juntas. Quando o Congresso saiu dos andaimes, sua arquitetura estava pronta. Na noite que vi o Palácio da Alvorada com o esqueleto pronto, achei-o mais bonito assim, sem vidros ou arremates.”

E fazer nascer uma cidade inteira, no meio do sertão de Goiás, foi apenas o começo. Depois disso, Niemeyer fez grandes projetos, como o Museu de Arte Contemporânea e a Passarela do Samba, no Rio de Janeiro, e o Memorial da América Latina, em São Paulo, apenas para citar algumas de suas obras mais consagradas. Em paralelo, seguiu a carreira de escritor e publicou obras como A Forma na Arquitetura, Conversa de Arquiteto e Oscar Niemeyer – 1999-2009. Nos últimos anos, se dedicou ao lado da mulher, Vera Lúcia, à edição da revista de cultura Nosso Caminho, que estava na 12ª edição.

Teve apenas uma filha, Anna Maria Niemeyer, galerista e designer de interiores, que morreu aos 82 anos. Os dois foram parceiros na produção de mobiliário. A cadeira de balanço de 1977, com estrutura de madeira prensada ebanizada, trama de palhinha e almofada de couro é uma das peças mais conhecidas da dupla. A poltrona e banqueta Alta, de 1971, de couro, foram as primeiras peças criadas por pai e filha.


Sede do Partido Comunista Francês, em Paris.

Outra atividade que marcou a vida de Niemeyer foi a política. Era considerado por muitos o último comunista do Brasil. Por ironia do destino, aqui ele projetou principalmente prédios para a democracia, como o Congresso Nacional e o Palácio da Alvorada. Sua única obra comunista foi construída em Paris, com a Sede do Partido Comunista Francês. “Eu acreditava, como ainda acredito, que, a menos que haja distribuição da riqueza que atinja todos os setores da população, o objetivo básico da arquitetura, ou seja, sua base social, será sacrificado, e nosso papel como arquitetos, apenas relegado a satisfazer os caprichos dos mais ricos.”

Veja aqui a última entrevista que Niemeyer deu à Casa e Jardim, às vésperas de completar 100 anos:

Casa e Jardim - Você costuma dizer que a arquitetura não tem importância, que importante é a vida...
Oscar Niemeyer  - Um sujeito que está na rua, fazendo um protesto, tem um trabalho mais importante do que o meu. Eu fui para a arquitetura por meio do desenho. Hoje, ela está na minha cabeça. Eu começo procurando reduzir os apoios. A arquitetura fica mais audaciosa. Busco o espanto, a surpresa. Desde a Igreja da Pampulha (1940) foi assim. A igreja levou muito tempo para ser aceita. A forma criava essa surpresa. Hoje já se faz igreja de tudo quanto é jeito. Naquela época, não.
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CJ - Na arquitetura de hoje, do que você gosta?
ON - Eu não critico colega. Cada arquiteto faz aquilo em que acredita. Uns vão mais pelo lado utilitário. Outros, mais pela forma. Arquitetura é feito pintura, é pessoal. Cada arquiteto tem que fazer o que está na sua própria cabeça, o que ele gosta. Não o que pretendem que ele faça. Aqui mesmo, eu trabalho com tanta gente, que se eu der um peitoril para cada arquiteto desenhar, cada um vai fazer um peitoril completamente diferente. O desenvolvimento do concreto armado ajudou muito. O concreto dá liberdade. Eu gosto da forma, dos grandes vãos, em que a curva é a solução natural. Hoje a gente pode tudo.

CJ - E as casas em que você morou, qual é sua relação com elas? 
ON - Nós morávamos com meu avô, Ribeiro de Almeida, numa casa no bairro das Laranjeiras. Fiquei nessa casa até ele morrer. Uma casa grande. A sala tinha cinco janelas. Numa, ficava um oratório com um retrato do papa na parede. Tinha missa todo domingo. Os vizinhos iam. Quando saí para a vida, vi tanta miséria, tanta injustiça. Entrei para o Partido Comunista. Meu avô era desembargador, mas não morreu rico. Ajudou muita gente. Quando ele morreu, a casa estava hipotecada. Acho que tenho isso dele. Quero tornar o mundo mais justo, mais homogêneo.

CJ - A sua casa, o que ela precisa ter? 
ON - A casa tem que respeitar a conformação do terreno, ser ligada naturalmente ao espaço aberto, ao jardim, à natureza. Quando fiz minha casa na Estrada das Canoas (1952), o terreno era inclinado. Fiz a sala em cima, os quartos embaixo. Tinha uma pedra no meio do terreno. Fiz a casa em volta. Eu gostava muito de morar ali. Mas uma casa é mais do que arquitetura. Tem que ser boa para encontrar os amigos, boa para conversar, para esculhambar o governo quando o governo precisa ser esculhambado. De resto, é a mulher do lado e seja o que Deus quiser.

CJ - De tudo o que você já fez na vida, o que faria de novo? 
ON - Acho que faria tudo com o mesmo empenho, o mesmo interesse. Não sei se faria igual, apesar de ter alguns projetos de que gostei mais de fazer.

CJ - E quais são? 
ON - Em Brasília, o Congresso, pela simplicidade das duas cúpulas soltas. O
sujeito sobe a rampa e pensa: aqui tem inovação. O Congresso é o meu preferido. Lamentável é o que se faz hoje lá dentro. Outra obra de que gosto muito é a sede da Editora Mondadori (1968), em Milão. O dono da editora queria uma colunata. Eu variei. Separei as colunas com um vão de 15 metros, outro de 7, um de 12 metros. Não é tudo igual. Ficou uma coisa musical. Tão simples. Mas ali estava a novidade. Arquitetura é invenção.

CJ - E quais outras obras você admira, o influenciaram, ou que você gostaria de ter feito?
ON - O Partenon, de Atenas, porque é limpo, bonito, imponente, sozinho naquela elevação. Hoje, fizeram outros prédios ali e ele perdeu o espírito que os antigos gregos queriam dar a ele. Também gosto do Palácio dos Doges, feito antes da Renascença, em Veneza, por causa das cúpulas que têm 30 metros. Naquela época, o sistema de construção não permitia cúpulas maiores. Mas o palácio tem muitos vãos, que dão essa leveza. Hoje, com os recursos que temos, fizemos para o Museu de Brasília uma cúpula de 80 metros. É uma coisa vasta, audaciosa.

CJ - E o que você não faria? 
ON - Uma vez um governador me pediu para fazer um projeto para 30 delegacias de polícia. Eu disse que não faria de jeito nenhum. Eu não ia fazer sala para botar preso dentro, que eu não sou cretino.












Fonte: Casa & Jardim




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